O papa Francisco mais uma vez se aproxima da comunidade LGBTQIA+ ao aprovar, nesta segunda-feira (18), a bênção para casais do mesmo sexo. Essa decisão histórica ocorre pouco depois da permissão para o batismo de pessoas trans.
O documento aprovado pelo papa, que completou recentemente 87 anos, marca um momento de intensos debates sobre a durabilidade de seu pontificado, iniciado há uma década. Mesmo enfrentando problemas de saúde, como bronquite, artrose no joelho e dor ciática, Francisco continua a abordar questões sensíveis.
A novidade destaca que a bênção litúrgica para casais homoafetivos não se equipara ao casamento, conforme enfatiza o texto: “Essa bênção nunca será realizada simultaneamente com ritos civis de união, nem em conexão com eles, para evitar confusão com a bênção do sacramento do matrimônio.”
O cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé e colaborador próximo do papa Francisco, destaca que a declaração busca “ampliar e enriquecer” a compreensão da bênção, fundamentando-se na visão pastoral do pontífice.
Esta é a primeira vez que a igreja abre espaço para a bênção a casais do mesmo sexo, gerando tensões internas devido à resistência da ala conservadora, especialmente nos Estados Unidos, onde Francisco já enfrentou críticas.
O documento indica que as bênçãos devem ser consideradas atos de devoção, afirmando que aqueles que as solicitam “não devem ser obrigados a ter perfeição moral prévia”.
Jeferson Batista, pesquisador em direitos humanos e cristianismo, vê essa medida como um avanço na “cidadania religiosa” dos LGBT+, embora mantenha a hierarquia sexual e de gênero ao não permitir o casamento gay.
O pesquisador destaca a celeridade de Francisco nas ações institucionais voltadas à comunidade LGBT+, prevendo um impacto histórico ao “tirar das sombras” práticas que já ocorriam de maneira não oficial, como a bênção a casais do mesmo sexo em alguns lugares, inclusive no Brasil.
Essa declaração vem seis semanas após o Sínodo dos Bispos, onde se discutiu o futuro da igreja, incluindo a abordagem a grupos marginalizados como divorciados em segunda união e pessoas LGBT+.
Rodrigo Toniol, professor da UFRJ, ressalta que esse é um processo que se desenvolve “de baixo para cima”, impulsionado pela demanda crescente das paróquias locais, sensíveis a questões inclusivas.
Em 2021, cinco cardeais conservadores pediram a Francisco que reafirmasse a doutrina católica tradicional sobre casais homoafetivos. O Vaticano respondeu que as bênçãos eram uma “possibilidade”. O papa continua enfrentando resistência de setores mais conservadores, mas sua declaração recente representa um avanço significativo, conforme observa Lilian Sales, professora de antropologia da Unifesp.
Desde sua eleição em 2013, Francisco tem enfrentado críticas conservadoras, mas medidas como a abertura do batismo para pessoas trans indicam um perfil pastoral que valoriza o contato direto e a acolhida. A infalibilidade papal dificulta retrocessos, conforme aponta Toniol, tornando as recentes mudanças importantes para a comunidade LGBT+.